Em 1983, estreia o filme "Onda Nova", dos diretores José Antonio Garcia e Ícaro Martins. Foi a terceira vez que Tania Alves trabalhou com José Antonio Garcia: antes ela atuou no curta "Hoje Tem Futebol" e no longa "O Olho Mágico do Amor".
O filme 'Onda Nova' conta a história de um time de futebol feminino chamado “Gaivota Futebol Clube”, possivelmente fazendo uma crítica à proibição do esporte para mulheres no Brasil dos anos de 1942 até 1975. Além disso, muitas das personagens do filme usam cabelos curtos, pois quando houve a liberação do futebol para as mulheres, havia restrição de que não podiam usar cabelos curtos. O filme aborda temáticas sobre diversidade sexual com cenas de sexo entre mulheres, entre homens e entre homens e mulheres; relações poligâmicas; masculinidades e feminilidades diversas; AIDS; aborto. Há várias referências no filme que brincam com estereótipos de gênero, como por exemplo, a mãe de uma das jogadoras do time é interpretada por um ator e o personagem de pai faz tricô por recomendações médicas; ou o início do filme que aparece um jogo de futebol em que homens se vestem com roupas femininas e algumas mulheres com roupas masculinas, entre outras cenas. [1]
O filme é considerado pelos seus realizadores como “uma colagem
surrealista sobre a juventude paulistana”. Uma curiosidade sobre o filme
é a participação dos jogadores Casagrande e Wladimir que atuavam no
Corinthians e Pita, então na Portuguesa; do cantor Caetano Veloso, e do locutor Osmar Santos.
"Onda Nova é uma crônica bem-humorada e juvenil de um time de jogadoras de futebol, o Gayvotas Futebol Clube (que, aliás, é o subtítulo do filme). É um grupo de garotas dispostas a vencer preconceitos, compartilhar amizades, enfrentar desafios, concretizar sonhos e, sobretudo, se divertir. É um filme leve, descompromissado, mas também muito experimental, lúdico e anárquico. O plano de tomar a Boca e fazer um cinema que mostrasse a nossa cara, iniciado em O Olho Mágico do Amor, aqui é levado às últimas consequências (...) Por causa do bom retorno de O Olho Mágico do Amor, o pessoal da Boca estava animado com nosso novo projeto. Tivemos uma verba um pouco maior, mas nada que evitasse o aperto com o qual já havíamos nos acostumado (...) Novamente, a gente contou com o zeitgeist daquela nossa geração, a vontade de ajudar, de fazer acontecer. Rolaram novas participações afetivas e até mesmo de gente que já tinha pintado no O Olho Mágico do Amor (...) O objetivo geral do filme era brincar com os papéis: os papéis que homens e mulheres supostamente exercem na sociedade. Como parte da nossa crítica se concentrava contra aqueles que impediam as mulheres de se expressarem no esporte, espalhamos ao longo de Onda Nova várias referências trocadas do que se acredita ser masculino ou feminino", revelou o diretor José Antonio Garcia no livro 'José Antônio Garcia - Em Busca da Alma Feminina', da Coleção Aplauso.
"Aqui eu cantava várias músicas, mas minha personagem era pequena. De qualquer modo sempre adorei trabalhar com Zé Antônio que, além de excelente diretor, era um amigo muito querido, supercriativo e generoso", comentou Tania no livro 'Tania Maria Bonita Alves', da Coleção Aplauso.
Já o diretor comentou a participação de Tania no filme: "A Tania protagoniza duas ironias nada sutis a respeito da ambiguidade sexual que estávamos abordando. Primeiro, ela faz uma proposta indecente bem sugestiva ao marido, oferecendo-lhe junto uma gilete. E, em outra cena, entoa Vale Tudo, do Tim Maia, no clube New Wave, onde as garotas vão para namorar e se divertir. Vale o que quiser, só não vale homem com homem, nem mulher com mulher, ela canta. E, enquanto isso, duas meninas do time estão se beijando na pista..."
Elenco
Carla Camurati
Vera Zimmermann
Tania Alves
Regina Casé
Cristina Mutarelli
Patricio Bisso
Sérgio Hingst
José D'Artagnan Jr
Cida Moreira
Casagrande
Osmar Santos
Caetano Veloso
José Paulo Gomes Alves
Wladimir
Luiz Carlos Braga
Edla Van Steen
José Antonio Garcia
Ficha Técnica
Direção e Roteiro
José Antônio Garcia e Ícaro Martins
Produção
Adone Fragano
José Augusto Pereira de Queiroz
Música Original
Luiz Lopes
Fotografia
Antonio Meliande
Edição
Eder Mazzini
Direção de Arte
Cristina Mutarelli
Figurinos
Cristina Mutarelli
Maquiagem
Maria Antonia Lombardi
Vavá Torres
Revisão Crítica
“Onda Nova consagrou-se como colcha de retalhos entre referências pop e udigrudi, repleta de séguizo, rodado com a saliência de quem está se divertindo no recreio e plantando um dane-se aos que não entendem o porquê de tanta “pornografia”. Aliás, é preciso que falemos claramente deste aspecto, já que causa espanto os espectadores atuais ainda se assustarem com cenas que na escala Richter da explicitude não chegam nem a 0,1% do que os delírios de Passolini causaram há mais de 30 anos em plateias mundo afora (...) Poderíamos dizer, pomposamente, que o filme articula um debate sobre o masculino e o feminino. A troca de papéis é uma constante, trabalhando com escracho, malícia e joie de vivre imensos as toscas convenções sociais de nossa provinciana brasilidade. (...) Por outro lado, podemos afirmar, igualmente, que se trata de um desbunde oitentista, em que mullets e perfumes Gelatti plantam a cenografia para a sucessão de gags da dupla de diretores-roteiristas. Décadas antes do fim trágico e prematuro, mascando chiclete e bebericando vodka, entre o deboche e a seriedade, a turma de Zé Antonio e Ícaro enfrentava as intempéries econômicas dos anos 80. Movida, sobretudo, a inventividade, paixão e doses cavalares de companheirismo".
Andrea Ormond (Blog Estranho Encontro).
"Onda Nova. A New Wave. O ano é 1984. Não aquele do Orwell. Eu tinha 2 anos de idade. São Paulo era uma cidade diferente então, mas nem tanto assim. Bem, a galera fumava que nem louca dentro do bar e ambientes fechados em geral. Não tinha essas coisas de internet, celular, redes sociais e o escambau. A Aids ainda era um fantasma distante (mas isso mudaria rapidamente). No Brasil, e em particular em SP, 1984 foi um ano intenso, o ano das Diretas Já, a conclusão definitiva da tal ‘abertura’, e a música e o style da época no mundo, que chegava aqui com relativa rapidez, era a New Wave (...) Todas as épocas e lugares mutcholocos da humanidade devem ser eternizados em livro, teatro, filme, etc, para que as gerações posteriores possam ver o que aqueles malucos faziam lá atrás. E o filme Onda Nova, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins, é uma dessas cápsulas do tempo onde vemos que tudo o que achamos super moderninho e descolado (...) Há as roupas, as camisetas muito mais legais que as camisetas hipsters que a gente vê por aí hoje em dia, méritos da direção de arte, cenografia e figurinos a cargo de MUTARELLI, que deve guardar até hoje aquele óculos verde-limão. (...) Podem dizer que as cenas de putaria quase explícita do filme são apelativas, gratuitas e o caraio, mas tô esperando pra ver algum cineasta da NOSSA GERAÇÃO fazer algo tão ousado, mas contando a história dos nossos tempos. Mas temo que a suposta libertinagem que tá rolando nos anos 10 é fichinha perto da dos anos 80. Somos mesmo tão mais caretas que aquele nosso tio que tinha seus vintepoucos anos quando a gente era criança?"
Blog SP Lado B.
"Todo o erotismo típico da pornochanchada era apenas um pretexto para discutir o tema da proibição do desporto para as mulheres, atividade estigmatizada como lésbica. O argumento do longa-metragem contém os mesmos problemas de profundidade de tantos outros da época. O diferencial está no subtexto, nas referências, inclusive, ao filme seguinte da dupla de diretores (Estrela Nua, 1985) num diálogo protagonizado por Regina Casé, ela que interpreta uma atriz que recusa dublar alguém que morreu antes de terminar uma pós-produção (...) O script faz menção a todas as orientações sexuais, se valendo da máxima comumente propagada de que a mulher tem muito menos restrições ao tacanho preconceito sexual (...) A despeito até do contumaz azedume da crítica de cinema especializada com a pornochanchada, o filme consegue transgredir bastante. A mistura entre o Cinema Novo e o modo de filmar contemporâneo de Garcia e de Martins é interessante, se tornando ainda mais significativo por dar voz a guetos sexuais até então completamente reprimidos e coibidos. O sexo livre, típico da geração de jovens underground dos anos 80, vai muito além do papai e mamãe habitual. Transas homossexuais masculinas, desejo de suicídio após relações carnais e afins, são alguns das iguarias do cardápio".
Filipe Pereira - Site Vortex Cultural
"Onda Nova. A New Wave. O ano é 1984. Não aquele do Orwell. Eu tinha 2 anos de idade. São Paulo era uma cidade diferente então, mas nem tanto assim. Bem, a galera fumava que nem louca dentro do bar e ambientes fechados em geral. Não tinha essas coisas de internet, celular, redes sociais e o escambau. A Aids ainda era um fantasma distante (mas isso mudaria rapidamente). No Brasil, e em particular em SP, 1984 foi um ano intenso, o ano das Diretas Já, a conclusão definitiva da tal ‘abertura’, e a música e o style da época no mundo, que chegava aqui com relativa rapidez, era a New Wave (...) Todas as épocas e lugares mutcholocos da humanidade devem ser eternizados em livro, teatro, filme, etc, para que as gerações posteriores possam ver o que aqueles malucos faziam lá atrás. E o filme Onda Nova, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins, é uma dessas cápsulas do tempo onde vemos que tudo o que achamos super moderninho e descolado (...) Há as roupas, as camisetas muito mais legais que as camisetas hipsters que a gente vê por aí hoje em dia, méritos da direção de arte, cenografia e figurinos a cargo de MUTARELLI, que deve guardar até hoje aquele óculos verde-limão. (...) Podem dizer que as cenas de putaria quase explícita do filme são apelativas, gratuitas e o caraio, mas tô esperando pra ver algum cineasta da NOSSA GERAÇÃO fazer algo tão ousado, mas contando a história dos nossos tempos. Mas temo que a suposta libertinagem que tá rolando nos anos 10 é fichinha perto da dos anos 80. Somos mesmo tão mais caretas que aquele nosso tio que tinha seus vintepoucos anos quando a gente era criança?"
Blog SP Lado B.
"Todo o erotismo típico da pornochanchada era apenas um pretexto para discutir o tema da proibição do desporto para as mulheres, atividade estigmatizada como lésbica. O argumento do longa-metragem contém os mesmos problemas de profundidade de tantos outros da época. O diferencial está no subtexto, nas referências, inclusive, ao filme seguinte da dupla de diretores (Estrela Nua, 1985) num diálogo protagonizado por Regina Casé, ela que interpreta uma atriz que recusa dublar alguém que morreu antes de terminar uma pós-produção (...) O script faz menção a todas as orientações sexuais, se valendo da máxima comumente propagada de que a mulher tem muito menos restrições ao tacanho preconceito sexual (...) A despeito até do contumaz azedume da crítica de cinema especializada com a pornochanchada, o filme consegue transgredir bastante. A mistura entre o Cinema Novo e o modo de filmar contemporâneo de Garcia e de Martins é interessante, se tornando ainda mais significativo por dar voz a guetos sexuais até então completamente reprimidos e coibidos. O sexo livre, típico da geração de jovens underground dos anos 80, vai muito além do papai e mamãe habitual. Transas homossexuais masculinas, desejo de suicídio após relações carnais e afins, são alguns das iguarias do cardápio".
Filipe Pereira - Site Vortex Cultural
Veja algumas cenas de Tania Alves em "Onda Nova":
Citações:
[1] - Guia de pornochanchadas com iniciativas de resistências. Por Maria Eduarda Ramos.
Fontes:
* José Antônio Garcia - Em Busca da Alma Feminina - Coleção Aplauso
* 'Tania Maria Bonita Alves' - Coleção Aplauso
* Blog Estranho Encontro
* Site Papo de Cinema
* Blog SP Lado B
* Acervo Site As Cantrizes
* Guia de pornochanchadas com iniciativas de resistências. Por Maria Eduarda Ramos.
[1] - Guia de pornochanchadas com iniciativas de resistências. Por Maria Eduarda Ramos.
Fontes:
* José Antônio Garcia - Em Busca da Alma Feminina - Coleção Aplauso
* 'Tania Maria Bonita Alves' - Coleção Aplauso
* Blog Estranho Encontro
* Site Papo de Cinema
* Blog SP Lado B
* Acervo Site As Cantrizes
* Guia de pornochanchadas com iniciativas de resistências. Por Maria Eduarda Ramos.
Um típico filme nacional dos anos oitenta que eu costumava assistir de madrugada no Canal Brasil e que me trás boas recordações. Os anos oitenta foram a minha infância e a melhor época da minha vida e me influenciam poderosamente até os dias de hoje
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