Negar a palavra “vagina” é negar a mulher. Partindo desse princípio e com muito riso, a peça Os Monólogos da Vagina tem a missão de diminuir os preconceitos que cercam o órgão sexual feminino e, por consequência, as mulheres. Já encenado em mais de 36 países, o texto da dramaturga Eve Ensler estreou em 1996 no circuito off-Broadway de Nova York. A peça foi trazida para o Brasil em 2001 pelos atores e produtores Cássio de Souza e Vera Setta, e ganhou adaptação de Miguel Falabella, que também assinou a direção.
Rejeitando o rótulo de panfletária, uma das produtoras, Vera Setta, defende o espetáculo como uma causa pelo fim da violência contra a mulher. “É uma missão na minha vida”, resume ela.
Ao longo dos anos, o revezamento de atrizes nos papéis tem sido um dos segredos da longevidade do espetáculo. Estiveram nos palcos de mais de 50 cidades brasileiras nomes como Zezé Polessa, Cissa Guimarães, Cláudia Rodrigues, Totia Meireles, Mara Manzan, Fafy Siqueira, Bia Nunnes, Lúcia Veríssimo, Elizangela, Betina Viany e Tania Alves.
Na base do texto, depoimentos de mais de 200 mulheres que a autora colheu em todo o mundo. Na versão de Falabella, cenas com várias personagens falando de suas dificuldades. Tem uma menina enfrentando o desafio de compreender sua primeira menstruação, uma velhinha que não quer mais transar por causa de um trauma e o workshop da vagina, no qual a professora se esforça para ensinar tudo a duas alunas ignorantes sobre o assunto.
Segundo Vera, Os monólogos... são bastante atuais. “A peça é mais oportuna do que nunca e algumas questões tratadas por ela trazem logo à mente das pessoas os casos de abusos contra crianças que estão acontecendo no Brasil”, diz.
Desvendar a sexualidade feminina nos palcos, lembra Vera, não é tarefa fácil no Brasil. O título polêmico dificultou até a obtenção de grandes patrocínios; para se manter tantos anos nos palcos, a peça contou principalmente com a divulgação boca a boca. “Temos a exploração dessa imagem de um país sensual, mas trazer a palavra ‘vagina’ logo no nome me provou o contrário, porque encontrei muito preconceito”, conta. Que não vem só dos homens, aliás. “Aqui muitas mulheres são machistas, educam as filhas de um modo diferente criando meninas submissas, inseguras”, critica, mas comenta que a boa receptividade do público, formado por homens e mulheres, mudou um pouco essa visão. “E a família pode ir, porque não tem nada pornográfico, ninguém tira a roupa”, brinca.
No livro 'Tania Maria Bonita Alves', da Coleção Aplauso, Tania comenta sua participação em 'Os Monólogos da Vagina':
"Vi Os Monólogos da Vagina, no Rio de Janeiro, com Zezé Polessa, Cláudia Rodrigues e Betina Vianny na estreia em 2001. Adorei a adaptação e a direção do Miguel Falabella. O texto da americana Eve Ensler é baseado em entrevistas realizadas por ela com mais de 200 mulheres de todo o mundo e de diversas realidades diferentes, revelando intimidades, vulnerabilidades, temores e conquistas. Me surpreendi com a seriedade com que os assuntos do cotidiano feminino eram abordados, apesar de ser uma comédia. Na estreia fiquei impressionada especialmente com uma cena sobre uma mulher na Bósnia. É interessante lembrar disso agora, porque em certos momentos naquela noite, enquanto assistia ao espetáculo, me imaginei fazendo esse trabalho. Era o destino me apresentando aos meus futuros personagens, porque quatro ou cinco anos depois, ao lado de Betina Vianny e Vera Setta, também produtora do espetáculo, formei o novo trio de Os Monólogos da Vagina e viajamos pelo Brasil inteiro. Ter feito essa comédia foi terapêutico para mim. Tenho um lado recatado e falar a palavra vagina e seus inúmeros sinônimos em público foi uma libertação! Até falo alguns poucos palavrões eventualmente, no meu dia a dia. Mas todo o final de ano me dou como meta, entre outras é claro, parar de falar palavrões no ano seguinte. Acho palavrão muito deselegante, mas ainda não consegui me livrar deles totalmente. Por outro lado palavrões são tão fortes que muitas vezes para expressar ressentimentos ou desabafar só mesmo lançando mão de um belo e sonoro pqp. Talvez eu faça parte da geração de mulheres que começou a falar palavrão com mais liberdade. Até então era muito grosseiro e vulgar esse tipo de linguajar para o sexo feminino. Também descobri que não sabia tudo sobre sexualidade feminina e que, assim como mulheres de outras partes do mundo com culturas completamente diferentes, tinha as mesmas dúvidas e inseguranças sobre esse assunto. Minha colaboração na criação das personagens de Os Monólogos foi muito pequena porque entrei para substituir a atriz Totia Meireles, que por sua vez substituiu Zezé Polessa. Quando isso acontece você, obviamente, fica fora do processo criativo e acaba seguindo o que já existe. Depois, aos poucos, a marcação das cenas fica orgânica e começam a aparecer suas contribuições. Fiz questão, por exemplo, de fazer cada um dos meus sete personagens completamente diferentes um do outro, quase que personagens de sete peças distintas. E, como não gosto de composição, procuro o sentimento deles e não o corpo. O sentimento faz aparecer a voz e o jeito de falar e andar e olhar… "
Rejeitando o rótulo de panfletária, uma das produtoras, Vera Setta, defende o espetáculo como uma causa pelo fim da violência contra a mulher. “É uma missão na minha vida”, resume ela.
Ao longo dos anos, o revezamento de atrizes nos papéis tem sido um dos segredos da longevidade do espetáculo. Estiveram nos palcos de mais de 50 cidades brasileiras nomes como Zezé Polessa, Cissa Guimarães, Cláudia Rodrigues, Totia Meireles, Mara Manzan, Fafy Siqueira, Bia Nunnes, Lúcia Veríssimo, Elizangela, Betina Viany e Tania Alves.
Na base do texto, depoimentos de mais de 200 mulheres que a autora colheu em todo o mundo. Na versão de Falabella, cenas com várias personagens falando de suas dificuldades. Tem uma menina enfrentando o desafio de compreender sua primeira menstruação, uma velhinha que não quer mais transar por causa de um trauma e o workshop da vagina, no qual a professora se esforça para ensinar tudo a duas alunas ignorantes sobre o assunto.
Segundo Vera, Os monólogos... são bastante atuais. “A peça é mais oportuna do que nunca e algumas questões tratadas por ela trazem logo à mente das pessoas os casos de abusos contra crianças que estão acontecendo no Brasil”, diz.
Desvendar a sexualidade feminina nos palcos, lembra Vera, não é tarefa fácil no Brasil. O título polêmico dificultou até a obtenção de grandes patrocínios; para se manter tantos anos nos palcos, a peça contou principalmente com a divulgação boca a boca. “Temos a exploração dessa imagem de um país sensual, mas trazer a palavra ‘vagina’ logo no nome me provou o contrário, porque encontrei muito preconceito”, conta. Que não vem só dos homens, aliás. “Aqui muitas mulheres são machistas, educam as filhas de um modo diferente criando meninas submissas, inseguras”, critica, mas comenta que a boa receptividade do público, formado por homens e mulheres, mudou um pouco essa visão. “E a família pode ir, porque não tem nada pornográfico, ninguém tira a roupa”, brinca.
No livro 'Tania Maria Bonita Alves', da Coleção Aplauso, Tania comenta sua participação em 'Os Monólogos da Vagina':
"Vi Os Monólogos da Vagina, no Rio de Janeiro, com Zezé Polessa, Cláudia Rodrigues e Betina Vianny na estreia em 2001. Adorei a adaptação e a direção do Miguel Falabella. O texto da americana Eve Ensler é baseado em entrevistas realizadas por ela com mais de 200 mulheres de todo o mundo e de diversas realidades diferentes, revelando intimidades, vulnerabilidades, temores e conquistas. Me surpreendi com a seriedade com que os assuntos do cotidiano feminino eram abordados, apesar de ser uma comédia. Na estreia fiquei impressionada especialmente com uma cena sobre uma mulher na Bósnia. É interessante lembrar disso agora, porque em certos momentos naquela noite, enquanto assistia ao espetáculo, me imaginei fazendo esse trabalho. Era o destino me apresentando aos meus futuros personagens, porque quatro ou cinco anos depois, ao lado de Betina Vianny e Vera Setta, também produtora do espetáculo, formei o novo trio de Os Monólogos da Vagina e viajamos pelo Brasil inteiro. Ter feito essa comédia foi terapêutico para mim. Tenho um lado recatado e falar a palavra vagina e seus inúmeros sinônimos em público foi uma libertação! Até falo alguns poucos palavrões eventualmente, no meu dia a dia. Mas todo o final de ano me dou como meta, entre outras é claro, parar de falar palavrões no ano seguinte. Acho palavrão muito deselegante, mas ainda não consegui me livrar deles totalmente. Por outro lado palavrões são tão fortes que muitas vezes para expressar ressentimentos ou desabafar só mesmo lançando mão de um belo e sonoro pqp. Talvez eu faça parte da geração de mulheres que começou a falar palavrão com mais liberdade. Até então era muito grosseiro e vulgar esse tipo de linguajar para o sexo feminino. Também descobri que não sabia tudo sobre sexualidade feminina e que, assim como mulheres de outras partes do mundo com culturas completamente diferentes, tinha as mesmas dúvidas e inseguranças sobre esse assunto. Minha colaboração na criação das personagens de Os Monólogos foi muito pequena porque entrei para substituir a atriz Totia Meireles, que por sua vez substituiu Zezé Polessa. Quando isso acontece você, obviamente, fica fora do processo criativo e acaba seguindo o que já existe. Depois, aos poucos, a marcação das cenas fica orgânica e começam a aparecer suas contribuições. Fiz questão, por exemplo, de fazer cada um dos meus sete personagens completamente diferentes um do outro, quase que personagens de sete peças distintas. E, como não gosto de composição, procuro o sentimento deles e não o corpo. O sentimento faz aparecer a voz e o jeito de falar e andar e olhar… "
Veja mais fotos de Tania Alves em "Os Monólogos da Vagina":
Tânia querida, como vai?
ResponderExcluirFiquei muito sentido em ler o texto acima e ver que você, mesmo sabendo de como tudo começou, creditou somente à Vera o mérito de produtora que trouxe o espetáculo para o Brasil. Você sabe muito bem que eu fui, juntamente com a Vera, responsável por este feito. Pena. Beijos. Cássio
Prezado Cássio,
ResponderExcluira informação já foi corrigida e seu nome foi incluído.
Não foi a Tania quem escreveu esse texto. Como você pode ler na descrição, esse Blog foi feito em homenagem à Tania, e não por ela própria.
Obrigado pela informação.